Precipício (Artane Inarde)
Meu caro amigo
Perdoe-me a franqueza
Mas você ainda tem tanto o que aprender…
Sua sabedoria fria é incompleta
Impura e insuficiente
Falta-lhe generosidade, perdão
Falta-lhe coragem, delicadeza
Falta-lhe alma, coração…
Meu caro amigo, perdoe-me a franqueza
Mas as suas estratégias são inúteis
Assim como sua vingança é vã
Você quis me atingir…
Mas na verdade me curou
A verdade é que só você não vê
Que seu peito sangra também
Meu caro amigo
Perdoe-me a franqueza
Mas se você estivesse mesmo de boa
Se fosse tão indiferente quanto diz
Não ficaria assim tão furioso
Não brigaria comigo nem
Tentaria deliberadamente me ferir
O que te impediria de ser feliz?
Essa crueldade infantil não leva a nada
Meu caro amigo
Perdoe-me a franqueza
Mas eu só te amei, do jeito que pude
Da maneira que eu soube…
E isso me fez crescer,
Como mulher,
Como ser humano
E toda essa sua cautela exemplar
Nunca vai te permitir viver
A vida é salto, é precipício
E nessa queda só quem ama pode voar
Eu posso arriscar sem temer
Porque posso dizer que eu sei amar
E isso, meu caro amigo,
Isso ninguém pode me tirar!